O luto
- Leãozinho

- 3 de dez.
- 4 min de leitura
Saber da morte das pessoas me fez pensar muito sobre a morte.
E sobre o fim dos ciclos.
Mas os dias após a morte tem me feito pensar sobre o luto.
Quando penso em luto logo me vem aquela ideia da dor, aquele perder o chão e o desespero que sentimos quando temos a notícia da morte.
Aliás, isso se a gente não fica em um estado de paralisia - por simplesmente não conseguir processar a notícia que acabamos de receber.
E o choro ele vem. Cedo ou tarde.
Lágrimas escorrendo copiosamente, aquele choro que você nem sabia mais como era sentir.
Um choro alto e extremamente intenso - se nos permitimos sentir.
O estranho do luto não é essa fase inicial. A parte mais estranha é aquela depois que você já recebeu todo o acolhimento.
Quando todos os processos iniciais ocorreram e agora resta apenas você com o sentimento.
Um sentimento que hora é de saudade,
hora é uma nostalgia de relembrar momentos, hora um sentimento de processar conversas que gostaria de ter tido ou, pior, conversas difíceis que tiveram.
Arrependimento pode surgir.
Culpa também.
Todos esses sentimentos fazem parte desse processo que chamamos de Luto.
O luto.
Você acorda com aquele vazio.
Outros dias acorda com saudades.
Até raiva você pode acordar também.
Um silêncio se faz.
Você se levanta e tem que continuar a vida.
Tem que ir para o trabalho, escutar as cobranças e ir atrás de fazer as entregas.
O mundo não parará para você sentir tudo isso com calma… e por vários dias isso maltrata. Porém, há outros dias que isso te salva.
Você acorda um dia e consegue sorri - às vezes.
Em alguns momentos começa a aceitar a perda.
Só que por dentro estão os pedaços de uma caneca de porcelana quebrada - que os cacos foram colados com cola branca.
É um processo único de cada um.
Solitário.
E não tem para onde correr: você vai ter que conviver com essa perda que te faz desabar.
Esse ano eu vi tantas pessoas com suas porcelanas quebradas…
Ali….
No silêncio…
Só torcendo para que aquela cola branca segure os cacos pelo menos até o fim daquele dia.
Dependendo da perda, se foi um filho, uma mãe, ou um pai, alguém importante… A alça da caneca de porcelana jamais será colada.
A falta daquela alça faz com que você encontre canecas por aí, ainda úteis, mas que estarão para sempre quebradas.
É como se fosse a cicatriz daquela caneca.
Assim será.
Não vai ter o que te digam, ou que façam, você vai ter que entender que agora sempre ficará esse vazio, ou, essa parte que falta.
O luto.
Esse processo que tem hora para começar, mas não tem hora de acabar.
Se é que acaba!
Ele pode apenas se transformar naquela saudade que te arranca aquele suspiro profundo e longo nos momentos de recordação.
Ou pode se tornar aquele peso amargo de arrependimento por sentir que a mágoa prevaleceu no relacionamento e nas lembranças.
Nesse caso, é como se os últimos momentos estivessem eternizados em dor e conflito.
É como uma doença que arranca de nós a possibilidade de ter uma lembrança recente, vívida, que foi saudável e amorosa.
O luto é aceitar a ausência.
É também aceitar os ciclos vida-morte-vida.
E exercitar em si um desapego do “motivo”, da razão, que explicaria o outro partir.
O luto é aceitar a dor.
Dor da perda.
A perda que você vai ter que conviver pelo restante da sua própria vida.
O luto é refletir sobre a vida diante da morte.
O luto é lutar todos os dias.
O luto é aprender sobre a finitude, sobre o não controle e sobre a velocidade do tempo enquanto há vida.
O luto é refletir sobre espaço e tempo.
O luto é se curar.
O luto é abrir uma ferida.
O luto é se fortalecer.
O luto é processo que te faz descobrir que é mais resiliente e resistente do que imaginava.
O luto é refletir sobre sua forma de viver, suas certezas, suas atitudes, suas crenças e sua Fé.
O luto é uma prova.
Um teste da sua Fé, da sua fraternidade e da sua caridade.
O luto pode parecer um abismo, um salto em direção ao nada, salto no escuro de um buraco que não se sabe onde termina.
Só que o luto pode der também um túnel: escuro, assustador, longo, que amedronta, mas que te faz seguir a Luz.
Na esperança de que:
Ao alcançar aquela Luz, a sombra e a escuridão serão um passado recente, mas distante.
Você atravessou. Saiu mais forte, mais confiante e mais fortalecido na Fé e com confiança da Sabedoria Divina.
Sem Fé, o luto se torna um abismo escuro que parece inevitável e sem fim.
Principalmente, quando é um desafio compreender que: a única certeza da vida é a morte.
Mas… e se a morte for apenas uma passagem para uma nova forma de estar vivo?





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