
A morte
- Leãozinho

- 23 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.
Essa semana me veio uma memória de um livro que eu lia repetidas vezes quando eu era criança: “Contos de enganar a morte”.
Eu não me recordo exatamente da histórias, mas eu lembro do que eu senti quando vi a capa do livro que era toda preta e branco, com uma figura de esqueleto representando a Morte!
Me gerou um estranhamento, um preconceito que me dizia que o livro seria ruim, mas a curiosidade me fez abrir suas páginas e ler as primeiras linhas.
As linhas, viraram parágrafos e depois páginas até que finalizei o livro.
Foi a primeira vez que li sobre a morte, que pensava sobre a morte e o estranho agora era que eu me sentia confortável com o tema.
Os personagens do livro conseguiam enganar a morte.
Pensar na morte ou lembrar que ela existe me deixava angustiada, mas logo eu pensava:
“sou muito nova e a Morte não me buscaria agora… ainda não é a minha hora.”
Eu estava certa! A minha hora não era mesmo, mas fui obrigada a aceitar a presença da morte na vida.
A primeira vez que vi um animal morrer foi quando eu tentei cuidar de um filhote de pássaro preto que caiu do ninho.
Um dia, a minha criança resolveu soltar o filhotinho de passarinho, pois entendeu que ele não ficaria feliz em uma gaiola.
Eu lembro que para tomar essa decisão eu havia nutrido um sentimento dentro de mim que gritava: “Ele merece ser livre!!!”
Então, sentada na calçada de casa soltei o passarinho.
Eis o meu erro, a rua era movimentada e a minha criança ingênua não contava com o fato que o passarinho caminharia em direção aos carros.
Em poucos segundos o passarinho foi esmagado e despedaçado por um pneu de carro em alta velocidade.
Eu? Sentada, chorando, triste com o que eu acabava de ver.
Na época foi trágico, mas hoje brinco com a situação: Morreu, mas morreu livre!
…
A morte é mais fácil de aceitar e de compreender como um ciclo da vida quando somos totalmente racionais.
Quando a morte vem para levar quem amamos, fica mais difícil compreender e aceitar, pois somos pura emoção.
Neste ano de 2024 a morte esteve muito presente em minha vida.
Me lembra até o ano de 2010, pois naquele ano perdi duas pessoas que eu amava muito!
Eu tinha apenas 16 anos e passei por um grande luto.
Eu nem sabia o que era luto, muito menos que ele poderia ter etapas…
Hoje eu entendo que naquela época eu neguei a tristeza.
Eu ignorei minhas emoções!
Tentei me manter bem e com a mente distraída na esperança de chegar o dia em que tudo aquilo se tornaria uma lembrança distante.
Bom, vocês sabem que não deu certo!
Apenas parcelei meu luto em 78x !
Além disso, foi necessária mais de uma sessão de terapia junto com a espiritualidade da consagração de ervas medicinais para que eu falasse sobre a morte e a dor da perda.
Foi um longo processo de aceitar o luto e a tristeza.
Então, 14 anos depois, estou passando novamente por situações de luto em um mesmo ano.
A morte vem me lembrar que para morrer basta estar vivo.
Ela vem me mostrar que não controlamos como ela ocorrerá, nem onde ocorrerá e que nunca controlaremos quando ela aparece.
Foi a primeira vez que perdi um animal de estimação, a Bardot.
Essa foi a minha primeira experiência de luto neste ano.
Aconteceu de surpresa, rápido, não foi possível me despedir. E foi dramático, como no filme Marley e Eu.
Em seguida, a morte apareceu e levou na madrugada o meu tio, irmão da minha mãe.
Ser a pessoa que conta para sua mãe, na madrugada, que ela perdeu o irmão, foi uma das missões mais desafiadoras ao lado da morte que a espiritualidade me concedeu até hoje.
A semelhança entre como a morte da Bardotzinha ocorreu e a do meu tio pode soar como piração.
Ambos com câncer…
Sendo o da Bardot no pulmão e do meu tio na traquéia.
Ambos descobrimos apenas nas duas últimas semanas…
A Bardot morreu em casa no colo da minha mãe…
O meu tio morreu em casa nos braços da irmã da minha mãe…
Ambas as mortes à noite.
Depois dessas perdas de seres tão próximos, aumentou a intensidade do meu medo de que a morte pudesse aparecer para os meus pais e as pessoas de minha convivência.
Perdi também um tio querido, Tio Rubem, pai de um primo que é como um irmão para mim.
Por fim, receber essa semana a notícia da morte da minha primeira amiga da infância: a Malu!
Ela foi a primeira amiga que quando criança eu desejava que fosse a minha irmã!
Eu amava quando os outros diziam que éramos parecidas e que poderíamos ser irmãs!
Memórias da minha infância me invadiram nesses últimos dias.
Lutos.
Sabe…
às vezes me vem aquele desejo de que a vida fosse como nos contos daquele livro…
Assim, eu conseguiria enganar a Morte!
Aceitar o ciclo da vida é mais desafiador quando amamos.




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