A crise do Ser

A presença distante que é ausência. A conexão que não conecta inteiramente.

Se vocês olhassem para minha cara hoje diriam "Nossa, você está com cara de cansada!".

Ninguém estaria errado.

Ontem eu fui atravessada sobre uma reflexão sobre excessos. O quanto algo em excesso torna-se um ponto de atenção.

Eu andei cometendo alguns excessos, excesso de trabalho, excesso de priorizar a demanda do outro e não a minha, o excesso de estresse, o excesso de noites não descansadas, o excesso de informações...

Hoje eu disse "Quero ficar 15 dias sem internet, quero descansar no fim desse ano".

Eu sei que tem momentos na vida que nós temos que se dedicar mais um pouco para as coisas acontecerem ou para estruturar oportunidades.

Um dia desses, em uma conversa, sem pretensões, em um evento profissional, um desconhecido conversava comigo sobre negócios enquanto esperávamos a imensa fila do almoço.

O papo fluiu até que, depois de uma vasta consultoria sobre negócios e ganhar dinheiro, ele me disse:

"Meu pai trabalhou a vida inteira e ele resolveu parar quando tinha uns 60 anos para aproveitar a vida, mas em poucos anos ele descobriu uma doença e faleceu. Não deixe para aproveitar a vida depois de mais velha, não digo algo grande como viajar ou conhecer um grande lugar. Digo sobre fazer o que você gosta."

E eu interrompi:

"Tipo andar de bicicleta."

E ele confirmou em um tom de exatidão:

"Isso! De diariamente andar de bicicleta - se você gosta muito disso!".

E sabe, estou há alguns meses dos meus 32 anos, trabalhando muito em busca de dinheiro para comprar um pedacinho de terra.

Abrindo mão de finais de semana de descanso e com quem eu amo ou de diariamente andar de bicicleta na beira do mar. Eu não tenho tempo.

E eu não tenho tempo para falar com meus amigos, e para eles parece tudo bem, porque estamos todos em uma "correria!".

Estamos correndo para onde? para aonde? Por quê?

Porque eu sinto que se não fizer agora, o "time" vai passar e eu vou sentar lá na frente, olhar para trás e pensar:

"Eu poderia ter feito mais para ter...?"

Para ter...

Ter realizado um sonho?

Ter comprado?

Ter e ter.

Só que no ritmo que estamos… nós vamos sentar, olhar para trás e pensar:

"Será que eu poderia ter feito mais para ser?

Ser mais presente,

ser mais atencioso,

ser mais amoroso,

ser mais carinhoso,

ser mais alegre?".

Talvez a crise venha nessa formato diferente - de entender que na realidade poderia se contentar com menos, ter menos e ser mais.

E eu olho hoje para minhas redes sociais e vejo todos os meus amigos, mas não sou presente.

Eu não tenho tempo.

Eu deixo o meu noivo sozinho, pois eu não estou presente.

Eu não atendo ao pedido da minha mãe de ajudá-la com a compra de uma passagem, pois eu não estou com tempo.

Eu não tenho tempo para escrever.

O meu tempo hoje é todo voltado para ter... ter um emprego, ter um salário.

Ter uma base para que se qualquer coisa aconteça eu perceba que eu consigo sobreviver.

Eu falo "Eu quero dar ouvidos a essa voz que diz para usar o tempo para aquilo que verdadeiramente me nutre, me fortalece e que eu faço por mim. Não priorizando a demandas dos outros.”

Ah! Como eu sou boa nisso!

Nessa habilidade de priorizar o que é importante para o outro, mas em um desequilíbrio, sem igual, em priorizar o que é importante para mim!

É a presença que é ausência. Ou seja, que se disfarça de presença.

No fim, estou ausente para tudo que é importante para mim.

Como viver encontrando o balanço entre o ter, subsistência, e o ser?

Eu quero na hora da morte olhar para atrás e me sentir orgulhosa por quem fui, no mais profundo entendimento do ser.

Até porque... eu já sei que nada do que eu vou ter será o que eu vou levar…

Esse papo meu já tá de manhã.

E se você leu até aqui... sente o mesmo? Ou...

Esse papo meu tá qualquer coisa?

E você tá pra lá de Teerã?

Mas eu ainda acho que:

Mexe qualquer coisa dentro, doida!

Já qualquer coisa, doida, dentro mexe!