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A minha vida não se resume ao meu mestrado

  • Foto do escritor: Leãozinho
    Leãozinho
  • 7 de fev. de 2021
  • 7 min de leitura

Pela primeira vez começo um texto já com um título definido. É que hoje eu não queria um título poético, bonito, misterioso ou literário. Eu quis ser direta e clara para que indique exatamente o que estou sentindo agora e durante todo este período da minha vida.


Meu grande sonho quando terminei a faculdade era entrar no mestrado. Eu realmente estava disposta a abrir mão de tudo para fazer acontecer (o mestrado) da forma como eu imaginava que deveria ser. Não agi diferente do que eu esperava de mim: no meu primeiro ano entreguei minha vida para a pós-graduação. Sim, quase que literalmente. O ano de 2019 foi dedicado exclusivamente a minha carreira.


Um breve resumo da minha vida nessa época: deixei de vivenciar momentos com os poucos amigos que eu tinha - a maioria deles conheci pelo meu círculo de convivência do laboratório; estava firme nos esportes transitando por aí de bicicleta e malhando. Minha segunda prioridade de dedicação foi a evangelização no centro espírita - não me arrependo, pois ali eu consegui manter minha força criativa viva (e minha esperança na humanidade também). Além disso, usei meu tempo para aprender inglês (carreira) e tentava manter minha sanidade mental indo à psicóloga - ainda bem que fui.


Logo nas primeiras sessões eu vivia dizendo que não tinha tempo para nada além do meu trabalho. Minha vida amorosa deveria esperar, minha família teria que esperar, meus amigos tinham que ser compreensivos. Minha vida social não existia e quase nunca destinava tempo para curtir minha própria companhia.


Comecei a me dar conta que algo de errado não estava certo (rs) quando minha psicóloga me questionou "E quando você vai parar de trabalhar?". Essa pergunta veio após minha justificativa, repetida, sobre não dar abertura para as pessoas porque meu tempo era para meu trabalho. Não me recordo se essas foram as exatas palavras dela, mas o que eu me dei conta nesse dia foi: eu já era uma adulta. Não haveria mais tempo para brincar, eu não teria mais férias escolares em que não iria me preocupar com nada, dali adiante para sempre teria responsabilidades profissionais, pois agora eu estava aprendendo a sobreviver no mundo adulto.


Essa sessão foi foda, mas não foi o suficiente.


Já estávamos em 2020 e eu já havia adiado por mais tempo do que deveria (três anos) uma cirurgia. Na sessão com a psicóloga eu tentava explicar que queria a cirurgia apenas quando terminasse meu mestrado e naquele momento eu estava chateada porque o médico me proibiu de adiar. A minha psicóloga me pergunta "De que vale o título do mestrado se você morrer?".


Essa sessão foi foda, mas não foi o suficiente.


O meu corpo começou a me dar sinais de que eu deveria parar! Algumas doenças apareceram, minha ansiedade eram tão alta que pedalar 60 km por semana e malhar todos os dias já não era suficiente. Só que eu ignorava meu corpo. Eu tinha que trabalhar. Eu não conseguia reconhecer que estava doente.


Até que...


Após a anestesia geral, acordei no centro cirúrgico confusa, notei a movimentação das enfermeiras ao meu lado, sentia dor e estava tão drogada que não conseguia pensar direito. As enfermeiras me perguntaram: "Oi, Luana. Como cê tá?" , fiz que estava bem, mas com dor. Logo em seguida falei: "Nossa, eu sonhei com macacos!" - eu visualizava a palavra Alouatta nesse momento. Obviamente todos morreram de rir e notei que me olharam com uma cara de "essa menina é muito estranha". Eu estava tão drogada que logo esqueci que tinha dito algo no centro cirúrgico, mas quando o médico me fez a primeira visita no quarto e chegou dizendo "E os macacos?", me veio o insight. Primeiro, eu ri pensando de mim mesma "Você é muito doida! Após uma cirurgia e entre tantos pensamentos ou sentimentos a primeira coisa que lhe veio a mente foi macacos?". Depois, entendi que havia uma recado bem claro ali pra mim.


Quando fui para o quarto me deram um remédio para dor muito forte. Meus pais preocupados (com razão) queriam que eu descansasse, só que logo pedi o celular para conferir as mensagens do trabalho. Minha mãe tentou resistir, mas apelei para o papel da menina mimada (brava) até ela ceder. Eu, dopada de remédio, nem 24h de cirurgia, não descansei. Peguei o celular para trabalhar. Eu estava curada, mas continuava doente. Eu retirei parte da tireoide que deveria ter 9 cm³ - a minha tinha 60 cm³. Para vocês terem noção, o médico tirou fotos e quando foi no quarto perguntou: Você não se engasgava com frequência? - ele estava impressionado. Eu disse que só percebi como me atrapalhava a engolir quando fiz minha primeira refeição após a cirurgia.


Eu não prestava atenção no meu corpo.


No dia seguinte, fui para casa e lá tentei trabalhar. Pensei comigo: Já que vou ficar deitada... vou ler artigos! Meu corpo não me permitiu. Eu sentia dor. Fui obrigada a parar.


Em seguida, veio a pandemia.

O mundo inteiro mudou.

O Meu mundo mudou.

Eu parei. Eu pensei. Eu refleti...


Saí do automático!


Me dei conta que quase abri mão da minha vida, literalmente, por conta de trabalho. Isso significava que eu ainda estava doente.


Tive um mês para pensar e percebi que eu não queria voltar. O meu trabalho (que eu tanto amo) já estava me deixando infeliz porque consumia todo o meu tempo. Além disso, eu já não tinha tempo para sentir, para amar ou odiar, para conhecer pessoas, para fazer minhas artes, para parar. Eu apenas existia, não vivia.


Na pandemia, em meio a tanta morte, eu redescobri a vida.


Não deixei de trabalhar, mas me organizei e criei tempo para mim. Me ausentei da evangelização o restante do ano.


Eu precisava desse tempo.

Eu precisava diminuir meus compromissos, meus projetos, minhas responsabilidades.

Eu precisava me permitir ter tempo para sentir!


Foi então que eu me permiti questionar. Questionei tudo! A minha sexualidade, a sociedade, o meu autoconhecimento, meus valores, minhas escolhas, meus sonhos.


"Quem era a mulher que eu estava me tornando?

O que eu gostaria de construir para minha vida?

Onde eu quero chegar?

O que faz sentido para mim?

Por quê o mundo me obriga a viver de uma forma que não me faz feliz?

A vida nas redes sociais está me deixando doente?

Se eu amo tanto estar na natureza porque me enfiei em um laboratório?"


Tantas informações... Ainda estou processando a maioria das perguntas.


Eu também me permiti criar.

Fiz novos vínculos de amizades, fortaleci aqueles que já existiam.

Desenhei, toquei, cantei, escrevi, fotografei.


Por fim, eu me abri para experimentar. Se apaixonar, arriscar, sonhar novos sonhos...


Diante de tudo isso, eu entendi que o período do meu mestrado me trouxe aprendizados científicos, profissionais, mas o que eu vivi vai muito além de tudo isso.


Em paralelo ao meu mestrado muitas emoções surgiram. Eu não sou um robô perfeito que funciona sempre para trabalhar e nem as máquinas são assim! Elas quebram, param de funcionar sem explicação, travam. Se nem elas são assim porque haveria eu de ser?


Eu sou um ser humano. Um ser vivo!


Acho que as pessoas se esqueceram o que é ser humano. O que é viver! O que é ter emoções! Vivemos dias tristes e felizes. Sentimos raiva, tristeza ou o contrário!


A sociedade ignora que quando estou trabalhando minhas emoções vão comigo! Meus sentimentos estão em mim! Não tem como eu prender-trancar eles dentro de casa e ir trabalhar. Por isso, nem todos os dias estamos bem para responder mensagens, para analisar dados, para ler artigos. Nós precisamos desse tempo para sentir. E é preciso ressaltar que: isso é saudável! Só que a sociedade não entende e cobra uma produtividade que não vai bem com os sentimentos.


Agora, 2021, 27 anos, em meio a pandemia, ao caos político, há um caos íntimo que estou vivendo.


Nessa transformação emocional, pela primeira vez na vida, senti que estou me tornando uma mulher.

Ainda tenho este meu jeitinho inocente de ser, meio menina moleque, meio moça, meio sem jeito como uma adolescente - acho que essa alma jovem sempre habitará em mim.


Tudo isso não importa, o mais importante é que estou orgulhosa da mulher que estou escolhendo ser.


Acho que a transição de menina para mulher não está relacionado com a idade, o emprego ou status de relacionamento, para mim A passagem tem relação com o retorno para Si. Em outras palavras, se reconhecer, se aceitar, se conhecer. É uma travessia pela ponte do "o que querem que eu seja" e "o que de fato sou".


Tornar-se mulher é encontrar o caminho da sabedoria e ter coragem de ir adiante. É preciso coragem porque é confuso, é repleto de emoções, é cheio de pessoas querendo dar palpite, é nadar em regras que você segue e nem sabe muito bem porquê, é assumir a responsabilidade das suas escolhas. O que não podemos esquecer é que por mais difícil que seja, é completo e preenche a alma.


Nessa fase da vida eu aprendi a ser sozinha. Aprendi como é viver a solidão. Não em um sentido de tristeza, mas como sinônimo de autoconhecimento.


É uma pena saber que tudo isso não vai para o meu currículo, mas é parte ESSENCIAL do que é a vida.


No espaço da vida considerado "nada" ou "fazer nada" eu tive a oportunidade de ser livre.


Ser livre para ser quem eu sou.


Liberdade.


Essa é a parte que as pessoas não conseguem perceber ou não valorizam quando você está fechando um ciclo como este. É um ciclo que ensina muito, que te exige muito, mas que você não pode deixar que tome as rédeas da sua vida.


Queremos (e devemos) olhar para trás e perceber que não só amadurecemos profissionalmente, como também, emocionalmente.


Cada pós-graduando com seu processo. O meu foi este e o de vocês?


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Comemorando meus 27 anos com meu irmão, Lucas!


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Momentos saudáveis em que fiz vários nadas com Brigitte e Bardot.

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